segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Festa do Bom Jesus de Peixe Cru - Turmalina Bem Imaterial.


Ata existente na Capela de Peixe Cru.
Prof.Eduardo José Cordeiro.
Antecedentes Históricos.


As manifestações culturais de uma comunidade são o retrato de seu patrimônio imaterial, pois constituem um rico arcabouço de tradições e costumes essenciais na vida de cada indivíduo do povoado. Elas trazem consigo representações da história daquele povo reproduzem fatos passados, remetem às origens do povoado e apresentam um modo único de festejar sobre vários motivos específicos.
O Antigo Peixe Cru apresentava fortes traços culturais próprios, como celebração e festas anuais, dentre elas: Festas Juninas, “Festa do Senhor Bom Jesus”, e alguns cantos de reza características da comunidade.
Estas festas estão ligadas ao calendário litúrgico religioso católico e ao calendário agrícola da região e faziam parte da vida dos moradores do povoado. As festas se davam na praça ou em local próprio como na capela do Senhor Bom Jesus de Peixe Cru, devotadas a um santo específico. Em geral, as festas apresentavam a configuração de uma procissão, seguida com cantos, rezas, e, ao final, leilão, comes e bebes e até foguetes de rabo.
Foto da Festa - Wolber Maciel - 2010.
A festa mais representativa no Antigo Peixe Cru era a Festa de Bom Jesus; tinham esta devoção originária da devoção ao Senhor Bom Jesus da Lapa; pois, é sabido que a população do Vale do Jequitinhonha tem até os dias atuais o costume devocional de visitar o Santuário da Lapa na Bahia uma vez ao ano, e muitas comunidades erguiam templos com Titulo Do Bom Jesus.
A festa de Peixe Cru não é diferente das demais comunidades católicas, costumava ser comemorada no dia 06 de agosto e ainda hoje celebram, sendo que sua parte religiosa iniciava-se três ou quatro semanas antes da festa propriamente dita, com o novenário.
As datas mais aproximadas da entronização da imagem do Bom Jesus é 1887 ou 1923; pode-se acreditar a partir das informações orais,pois fontes escritas são escassas,que a festa têm suas origens no mesmo período.Encontra-se sobre festa registro do ano de 1987.Os membros que atuavam neste período com organizadores desta festa eram:José Muniz, Maria Muniz,Darcy Muniz. A partir das informações existente nas primeira página do livro de ata,percebe-se que em alguns anosas festas aconteceram depois da data oficial;a festa do Bom Jesus é celebrada 6 de Agosto,e a Igreja em seu calendário litúrgico passou para o domingo mais próximo,denominando festa da transfiguração do senhor.
Foto da Festa: Wolber Maciel -2010.
Um dos eventos dentro da festa é o cortejo na véspera da festa, quando é levada uma bandeira (as bandeiras com santos são traços típicos das manifestações festivas do Antigo Peixe Cru) com a imagem de Bom Jesus, a bandeira era e ainda é hasteada e realizada uma grande queima de fogos, rezas na igreja, distribuição de comes e bebes leilões, bingos e forró. Como relata o Inventário do Patrimônio Cultural, a festa de Bom Jesus de Peixe Cru já foi muito concorrida e atraía moradores de todas as comunidades vizinhas e até mesmo de outros municípios.
Além dos eventos religiosos, a comunidade de Peixe Cru também celebrava em ocasiões de colheita, comemorava dançando algumas danças típicas como o “Vilão” e costumava cantar algumas cantigas próprias que eram transmitidas de geração para geração. E caminhada penitencial pelas ruas de Peixe Cru, com cantos e rezas piedosas.
Estes aspectos culturais característicos do antigo Peixe Cru formavam parte de seu Patrimônio Imaterial, extremamente rico e com características particulares de uma comunidade ligada à terra, seja pelo cultivo, pelo extrativismo ou às raízes cristãs.
Hoje os moradores da Nova Peixe Cru procuram manter viva esta devoção, celebrando a Festa com algumas adaptações, acompanhando o tempo e as realidades sociais- econômicas. 
Diz o documentário da Revista de Rádio:  “A comunidade Nova peixe Cru, a 38 km da sede do município de Turmalina viveu momentos de alegria e religiosidade durante as comemorações da “Festa do Nosso Senhor Bom Jesus”. No sábado, após a missa, celebrada pelo Padre Éderson, aconteceu uma procissão pelas ruas do povoado, que terminou com o levantamento do mastro e um grande show pirotécnico. A noite de sábado também foi marcada pelos shows de Elpídio Neves e da Banda Timbalô. No domingo, uma grande confraternização, promovida pelos festeiros reuniu integrantes do Clube do Galope de Turmalina, que saíram em marcha da comunidade Poço Dantas até a praça central da comunidade “Nova Peixe Cru”. Essa reunião dos festeiros com o Clube do Galope, com o povo da comunidade e visitantes, resultou em um grande churrasco em praça pública. Para o Padre Éderson, a festa coincide com um momento importante para Igreja Católica. “Ela integra as festividades dos 170 anos da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade. São quase 02 séculos de evangelização, e isso tem que ser comemorado junto com a comunidade”. No dia 10 de setembro acontece a primeira novena de Nossa Senhora da Piedade. Elas serão celebradas pelos padres que comandaram a paróquia nos últimos anos.” [1]
        Evolução Histórico cultural e Suas transformações.
A possibilidade enorme de ter sido o Senhor Bispo José de Haas que era Frade Franciscano, e tornou-se Bispo de Araçuaí em 1929 da qual Peixe Cru esta encardinada ter doado a Imagem do bom Jesus e ter incentivado a devoção e a criação da festa.
No começo do século XX, muitos missionários e missionárias vieram para a região. Exemplo disso é a presença dos franciscanos holandeses da atual Província de Santa Cruz, que trabalharam na região da diocese de 1912 a 1978. [1]
Com isso a devoção do povo aumentava ainda mais com a dinâmica das missões religiosas.
A festa do Bom Jesus permanece viva até os dias atuais. Muitos foram os Bispos que incentivaram e mantiveram esta festa ativa.
Depois de Dom José Haas, passaram pela diocese: Dom José Maria Pires, terceiro bispo; posteriormente Dom Altivo Pacheco Ribeiro ficou sete anos na diocese e pediu afastamento devido a problemas de saúde. Foi o responsável pela implantação das novas normas da Igreja pós-Concílio Vaticano II e conseqüentemente as inovações da festas do Bom Jesus.
Depois do Concilio, os leigos tiveram mais abertura por parte da Igreja para trabalhos eclesiais, músicas, expressões e celebrações sofreram adaptações. Já Dom Silvestre Luís Scandian, atual arcebispo de Vitória, assumiu a diocese no tempo da ditadura militar. Foi um defensor dos direitos humanos, trouxe os religiosos da Congregação Verbo Divino para a diocese.
Depois a diocese deve como Pastor Dom Crescenzio Rinaldini; depois teve como sucessor o Dom Enzo, que aos 75 anos, pediu um Bispo Coadjutor e recebeu aqui Frei Dario Campos, que era provincial dos Franciscanos da Santa Cruz também franciscano, o que indica que a festa do Bom Jesus ainda se fortificava,pois, franciscanos tem uma espiritualidade voltada para o povo simples e pela devoção ao Bom Jesus. O novo bispo tomou posse em 2000 e, no ano seguinte, assumiu a diocese. Em plena atividade, o bispo franciscano melhorou a estrutura da Cúria Diocesana e do Centro Pastoral refletindo nas paróquias e comunidades eclesiais. Hoje a diocese tem mais um bispo Franciscano Dom Severino, que apóia e incentiva a festa do bom Jesus.
A Festa do Bom Jesus em Peixe Cru, vai além da religião. É uma festa, no sentido mais amplo da palavra. E uma festa cultural, cada vez mais globalizada. Os elementos mais globalizantes estão nas manifestações que acontecem paralelamente à procissão religiosa e que fazem do evento um verdadeiro 'circuito cultural'. Estão entre esses elementos a Cavalgada em homenagem ao Santo, a penitência, as festas em geral que o povo promove - ou seja, o chamado lado profano da festa. Esses eventos, de caráter cultural, hoje fazem parte da agenda e até mesmo da tradição da festa religiosos. 
A mudança de manifestação religiosa para algo mais amplo, mais abrangente, faz com que a festa passasse a ser uma manifestação cultural. É uma possibilidade de ver reunido inúmeros elementos da cultura regional e de continuar a registrar e perpetuar esta tradição.
Essa mistura de elementos faz com que a festa religiosa passe a ser uma festa cultural. A maioria desses novos elementos foram incorporados nos últimos 20 anos aproximadamente e é perceptível quando conversamos com pessoas,como Maria Ferreira Muniz, uma das mais antigas da Nova Peixe Cru e que viveu na antiga e pode assistir inúmeras festas de lá,pois, ela recepcionava os Padre que iam à festa e chegou a fazer parte das comissões de frente da Festa do Bom Jesus.
Houve neste trajeto também algumas perdas, infelizmente, conforme a Senhora Maria Ferreira, esta festa começava um mês antes, com reuniões e preparativos; atualmente são nove dias, e mesmo assim o Padre participa no máximo dos três últimos dias da festa.  

[1] http://www.diocesedearacuai.com.br/historico/ - 28/12/2009 – 23h43min.


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