quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - Saberes Necessários à Prática Educativa - Prof. Paulo Freire.



                                                                            Prof. Eduardo José Cordeiro
                Este livro é importante e necessário a todo educador que se diz voltado para uma relação ensino/aprendizagem diante dos desafios e novidades do novo século, de interação e respeito à vida, à comunidade, ao saber, aquele saber construído e transformado pela reflexão. O processo de globalização, o avanço das novas técnicas têm posto novas exigências em relação à escola e à formação docente. “A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativo-progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos é a temática central em torno de que gira este texto.” [1] A especificidade do saber docente ultrapassa a formação acadêmica, abrangido a prática cotidiana e as experiências.
                  Paulo Freire em 03 capítulos subdivididos em tópicos agradáveis de ler, com linguagem fácil e com maestria na exposição do seu pensamento, vai nos orientando para uma prática de ensino onde esteja presentes sempre o humanismo, o respeito ao saber do outro, a interação entre docentes e discentes, e a responsabilidade do educador como ser em constante movimento de aprimoramento pessoal e profissional, para desenvolver uma prática voltada para a criticidade e respeito pela diversidade cultural e multiplicidade de conhecimentos; “ É neste sentido, por exemplo, que me aproximo de novo da questão da inclusão do ser humano, de sua inserção num permanente movimento de procura, que rediscuto a curiosidade ingênua e a crítica, virando epistemológica.”[2]
                         Ensinar exige segurança, competência profissional, e generosidade; é transferir conhecimento, e exige curiosidade nesta prática; com chamadas como estas, o autor vai desenvolvendo esta obra que é um reflexo de sua vivência dedicada à educação, na lida com comunidades as mais diversas e carentes de uma educação que a verdadeira democracia deveria abordar e construir.
                         “Ensinar exige rigorosidade”, ou seja, ensinar não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, todavia se alonga à produção de condições em que aprender criticamente é possível, exigindo a presença de educadores e educandos criativos, investigadores e inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Nas condições de verdadeira aprendizagem os discentes e docentes vão se transformando em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber ensinado.
                        “Ensinar exige pesquisa”; não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. [3] E cabe ao professor continuar pesquisando para que seu ensino seja propício ao debate e a novos questionamentos. A pesquisa se faz importante, pois nela se cria o estímulo e o respeito à capacidade criadora do educando.
Ainda faz parte do fazer pedagógica, a simplicidade que deve nortear todos os outros procedimentos do professor progressista comprometido com a troca de saberes, assim como, a alegria proporciona um estado de bem-estar no decorrer do processo de educação.
Paulo Freire em sua análise menciona alguns itens que considera fundamental para a prática docente, enquanto instiga o leitor a criticá-lo e acrescentar a seu trabalho outros pontos importantes.
                        Inicia afirmando que "não há docência sem discência" (p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (p.25). [4] Não há docência sem discência, as duas se explicam. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina, ensina alguma coisa á alguém. Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo historicamente que homens e mulheres descobriram que era possível ensinar[5]. Entendemos que o autor aconselha a escola e os professores que respeitem os saberes dos educandos e sempre que possível, trabalhar seu conhecimento empírico, sua experiência anterior. Aconselha-se a discussão sobre os problemas sociais que as comunidades carentes enfrentam e a desigualdade que as cercam.
                        O professor que não leva a sério sua formação, que não estuda, nem se aprimora, não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. “Ensinar não é transferir conhecimento” é a frase dominante do livro que remonta sua própria teoria do ensino bancário.
                       Quanto a sua formação, todavia, há professores cientificamente preparado, mas autoritários e arrogantes, ou seja, a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. A autoridade coerentemente democrática quer de si mesma, quer do educando, para a construção de um clima de real disciplina, jamais minimiza a liberdade.
O autor vai lentamente introduzindo conceitos que se misturam e se complementam às vezes de maneira sutil, e em outras ocasiões de maneira objetiva e absolutamente sincera.
Uma das principais mensagens que o autor deixa nesta obra, é o significado do ensinar.
A Pedagogia da Autonomia é sem dúvida uma das grandes obras da humanidade em prol duma educação que respeita todo o educando (incluindo os mais desfavorecidos) e liberta o seu pensamento de tradições desumanizantes.
                      “Ensinar exige estética e ética”; os professores têm grande responsabilidade ao ensinar e devem ser dotados de ÉTICA, sendo esta intimamente relacionada ao seu preparo científico, combatendo a crueldade da ética do mercado capitalista. Paulo Freire beira o moralismo quando se põe a discutir sobre os preconceitos embutidos consciente ou inconscientemente no processo educativo.
                      “Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo”; um exemplo vale mais que mil palavras – diz um sábio ditado. É importante saber que, dentro de sala e fora dela, o professor é alguém em quem o aluno se espelha, uma vez que este é (ou deveria ser) o seu mais concreto exemplo de sabedoria, de caráter. Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. [6] A cada dia há uma nova aprendizagem em nossa vida. Ao ensinar a gente aprende e com isso a gente ensina melhor. Isso sempre se transforma num movimento contínuo e, o melhor, produtivo.
                        O pensamento freiriano é extenso e gastaria muito tempo para analisar todo o seu pensamento à cerca da educação; mas percebe-se que na prática do ensino existem dezenas de critérios para fazê-la bem, dentre elas podem-se enumerar algumas como: rigorosidade metódica; pesquisa; respeito aos saberes dos educandos; criticidade; estética e ética; corporeificação das palavras pelo exemplo; risco, aceitação do novo e rejeição a quaisquer formas de discriminação; reflexão crítica sobre a prática educativa; reconhecimento e assunção da identidade cultural; quanto ao reconhecimento da identidade cultural, o respeito é de fundamental importância na prática educativa. Um simples gesto do professor faz diferença representativa na vida de um aluno. O que parece insignificante pode ser força formadora para o desenvolvimento intelectual do educando; Reconhecimento de ser condicionado; respeito à autonomia do ser do educando; bom senso; “A vigilância do meu bom senso tem uma importância enorme na avaliação que, a todo instante, devo fazer de minha prática.” [7]O bom senso deve está intimamente ligado ao trabalho educativo, haja vista, que cada professor tem seu jeito próprio de ser, ou seja, ninguém é igual, uns são autoritários, outros mau-humorados, outros alegres e deixam marcas e a maneira de ser influencia na vida do discente.Inclusive, o autor chama à atenção quanto à necessidade da lutar pelos direitos adquiridos, assim como também pelas plenas condições para o exercício de suas funções enquanto docente.
                     Portanto, dentro dessa perspectiva, pode-se afirmar com base no pensamento do autor que, ensinar realmente, implica na luta pelos direitos dos educadores e na utilização da humildade e tolerância no contexto da vida cotidiana da sala de aula. Convicção da possibilidade de mudança; comprometimento; compreensão de que educação é forma de intervenção no mundo; essa compreensão deve estar presente na prática-educativa de maneira crítica, da oportunidade de debates a respeito de questões importantes que permita ao aluno se posicionarem-se diante das realidades; disponibilidade para o diálogo; por fim querer bem aos educandos.
                   Concluindo, o autor afirma ser necessário um pouco de radicalidade nas ações; “estou convencido, porém de que a rigosidade, a séria disciplina intelectual, o exercício da curiosidade epistemológica não me fazem necessariamente um ser mal-amado, arrogante, cheio de mim mesmo.”
[1] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição. Primeiras Palavras.
[2] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição. Primeiras Palavras.
[3] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição; Cap.1, p.9.
[4] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição; Cap.1, p.6.
[5] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição; Cap.1, p.6.
[6] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição; Cap.1, p.10.
[7] Freire, Paulo; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: Saberes Necessários à Prática Educativa São Paulo: Paz E Terra, 1996 – Coleção Leitura- 18ª Edição; Cap.1, p..

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